Versão longa com suite composta por 4 temas do álbum “Oh Sweet solitude”

“O videoclipe conta com a participação de vários membros da Cooperativa Mula, um colectivo formado na cidade do Barreiro com base numa horta comunitária com quase duas décadas e que promove a participação local e social. Devido à pandemia está numa fase um pouco estranha”, mas, segundo Tiago Sousa, “continua com vontade de celebrar a sua existência e consegue criar este tipo de sinergias a que podemos assistir. Tal como as telas de Velázquez, o vídeo impõe-se ao olhar do observador pela sua energia intrínseca, aliada à atmosfera de meia-luz e aos vários degradés de sombras, transmitindo uma sensação paradoxal de movimento pendente.” in jornal Público

“Velázquez foi um pintor conhecido pela sua técnica de retrato, e é verdade que retratou sobretudo reis e nobres, mas também retratou pessoas das classes baixas, nas tabernas, na lavoura, nas ruelas. Retratos de pessoas anónimas, daquelas cujas histórias não aparecem narradas na História. Pessoas que apenas “são”; que fazem planos, que têm famílias, que trabalham, vivem aventuras, constroem ou coleccionam coisas… sem grande razão aparente. Só porque estão vivas e é isso que as pessoas quando estão vivas fazem. ” Tiago Sousa

Single com coloring da Vera Marmelo

“Antes de se vulgarizar a ideia Warholiana dos 15 minutos de fama, que acelerou até ser a procura da fama a cada 15 minutos, a maioria das pessoas estava apenas nas suas vidas. Podiam esperar deixar-se tocar umas pelas outras e era só. Um dia morriam. Não ficavam nos livros de História. No máximo, existiam como tipos de pessoas nos romances do Victor Hugo, ou do Steinbeck. Essa aspiração a ser relevante devia ser tão estrangeira para quem não tinha um certo nível de aristocracia.

Mas para nós que aqui andamos agora, a situação tem por vezes contornos dramáticos. A ideia de se ser esquecido causa uma enorme ansiedade. Quantas vezes não sou apanhado nas malhas desse tipo de lógica que traz atrelada uma narrativa sobre o que devia ter feito, ou estar a fazer, para que a música que escrevo tenha alguma relevância – se eu estudar mais ou se tivesse ido para o conservatório na altura certa, se fosse viver para Paris ou se tivesse pais ricos que me pagasse aquele curso de composição em Estocolmo; e outras tantas variações da mesma ideia.

Felizmente cada vez menos estou nesse lodo. Gravar este álbum foi uma espécie de grito do Ipiranga nesse processo. F*da-se a minha música pode ser desajeitada, não ter o apelo nem a sofisticação e a eloquência de outras, pode ser esquecida daqui a um instante, assim eu morra, ou passe tempo suficiente entre cada disco, ou qualquer desgraça ocorra. Entretanto ela tem necessidade de se expressar e eu seria uma pessoa muito infeliz se não lhe fizesse a vontade.
 
Fundamentalmente, para mim, esse é o tema deste vídeo. Parece-me que é da natureza do ser que se seja assim. Que se responda a um qualquer ímpeto para se ser-expressando-se, mesmo que nem sempre esteja lá outro que o confirme. É isso que julgo atravessar aqueles personagens, ainda que o momento do retrato seja solene não sabemos nada sobre as suas vidas ou as suas motivações. Existem enquanto encontros felizes de um particular arranjo de elementos que as torna únicas e isso é motivo mais que suficiente para ser celebrado.
Obrigado a todos por fazerem parte desta aventura!” 
 
Tiago Sousa

” (communism)… is expressed in the very smart and sincere way in which these people collaborate with each other on a daily basis, without any waged relations, much beyond the cynicism of many other projects of the sort (beyond most of the ones I’ve been involved, for example). It is also expressed in the very smart details of the video itself, which in a subtle but very intelligent way pictures (and plays with) the problematics of labour, production, and technique (for example, the plastic chicken inside the cement thing, the videographer appearing in the mirror, André playing the boss, etc).

It celebrates the project in its material and affective complexities without being, not for one moment, crude or pamphletary. Not the least, in the way the artist lets himself dissolve in the community he is a part of, a gesture of very rare elegance and grace. Maybe not communist enough for everybody, but certainly for me.”

by Luhuna Carvalho